Adam Sandler repete a receita até a exaustão em Um Maluco no Golfe 2, sequência da Netflix que transforma um clássico cult dos anos 90 num exercício de nostalgia preguiçosa e humor autocomplacente. Quase 30 anos após o original surpreender pela energia anárquica de Happy Gilmore, Sandler entrega um produto que beira o cinismo criativo: uma trama que recicla conflitos, apoia-se em referências vazias e falha miseravelmente em qualquer tentativa de profundidade dramática.
O retorno de Happy Gilmore poderia ser uma reflexão interessante sobre envelhecimento, luto e redenção. Em vez disso, o roteiro (coassinado por Sandler e Tim Herlihy) reduz a tragédia do personagem – a morte acidental da esposa e o abandono do golfe – a mero dispositivo conveniente para justificar piadas batidas e um comeback esportivo previsível. A motivação para seu retorno (custear a escola de ballet da filha Vienna, vivida pela real filha de Sandler, Sunny) soa artificial, servindo apenas para emular a premissa “salvar a casa da avó” do primeiro filme, mas sem sua urgência ou charme.
Os problemas estruturais são evidentes desde o início. As tentativas de explorar o luto e a culpa de Happy são rasas e desconectadas do tom pastelão. Cenas supostamente emocionantes são imediatamente sabotadas por piadas escatológicas ou situações ridículas, minando qualquer resquício de credibilidade emocional. Benny Safdie, talentoso ator e cineasta, é subutilizado como Francis Manatee, um antagonista corporativo sem dimensão ou ameaça real. A Maxi Golf League, suposta inovadora disruptiva, é um pano de fundo esquecido para gags fracas. O terceiro ato, por sua vez, é um insulto à inteligência do espectador, resolvendo conflitos complexos com soluções absurdamente convenientes e deus ex machina que ignoram completamente a lógica interna da história. A redenção de Shooter McGavin (Christopher McDonald, ainda carismático, mas com material fraco) é forçada e sem impacto.
O humor, marca registrada de Sandler, soa anacrônico e repetitivo. As piadas físicas exageradas e o escatológico, que funcionavam no original, aqui parecem datadas e sem energia. A direção de Kyle Newacheck tenta replicar o estilo vaudeville do primeiro filme, mas falta timing preciso, resultando em sequências arrastadas e pouco engraçadas.
O elenco, apesar de talentoso, luta contra um roteiro que não os valoriza. Sandler repete o desempenho raivoso de Happy, mas sem a novidade ou vulnerabilidade que tornaram o personagem cativante. Christopher McDonald e Ben Stiller (em uma divertida participação como Hal L.) oferecem breves momentos de alívio, mas estão presos a arcos insignificantes. Bad Bunny surpreende positivamente pela presença natural, mas seu personagem, Oscar, é relegado a coadjuvante funcional. As inúmeras participações de celebridades (Rory McIlroy, Travis Kelce) e cameos funcionam mais como fan service barato do que elementos narrativos orgânicos.
Um Maluco no Golfe 2 é a personificação da complacência criativa. Não apenas falha em capturar o espírito irreverente do original, como expõe a fórmula desgastada da Happy Madison Productions. A nostalgia é usada como muleta, não como base para algo novo. As tentativas de drama são hipócritas diante do comprometimento total com o humor raso, e o desenvolvimento da trama é insultantemente preguiçoso.
Para quem é? Exclusivamente para fãs hardcore de Adam Sandler que consomem sua filmografia indiscriminadamente. Para quem busca uma comédia inteligente, uma sequência à altura do clássico ou mesmo um drama esportivo funcional, Um Maluco no Golfe 2 é um birdie decepcionante, muito longe do hole-in-one esperado. A Netflix e Sandler entregam o mínimo esforço, contando com o capital nostálgico para atrair cliques.