Assim como Pantera Negra fez história em 2018 como o primeiro filme de super-heróis indicado ao Oscar, Eyes of Wakanda herda seu DNA de intencionalidade artística, emergindo como o novo marco visual do ainda jovem catálogo da Marvel Studios Animation no Disney+. Em apenas quatro anos, o estúdio construiu um ecossistema eclético – do revival anos 90 em “X-Men ’97” às mini-aventuras de “I Am Groot” –, mas enquanto “What If…?” reinava como referência estética, esta antologia de Todd Harris (veterano storyboarder de Ryan Coogler) estabelece novo padrão. A combinação de animação híbrida (2D tradicional e CG), o design de produção luminoso de Craig Elliott (A Princesa e o Sapo) e a direção de arte rica de August Hall (Os Boxtrolls) criam uma experiência visual sem paralelo.
A premissa dos Hatut Zeraze (os espiões “Cães de Guerra” de Wakanda) ganha vida em quatro missões históricas: Idade do Bronze, Guerra de Troia, Dinastia Ming chinesa e Primeira Guerra Ítalo-Etíope. Cada episódio é uma cápsula autônoma – acessível mesmo sem conhecimento do MCU – com resolução em 30 minutos, destacando-se pela fidelidade estética aos períodos e sequências de ação inventivas. A abertura em sépia da Studio AKA (em 2D elegante) e o trabalho da Axio Animation nos corpos dos episódios transformam paisagens épicas em quadros dignos de pausa, com paletas vibrantes e iluminação dramática.
Porém, a excelência técnica não se reflete uniformemente na narrativa. Enquanto episódios como “Na Boca do Leão” (Idade do Bronze) e “A Última Pantera” (Etiópia, século XIX) brilham ao explorar personagens como Noni (voz de Winnie Harlow), uma ex-candidata às Dora Milaje, e fundir tecnologia afrofuturista com dilemas éticos, os capítulos intermediários “Lendas e Mentiras” (Troia) e “Perdido e Achado” (China Ming) sofrem com roteiros previsíveis, humor desajeitado e mensagens didáticas.

Esta oscilação é agravada pela curta temporada de 4 episódios, que impede a construção de um ritmo coeso – a série parece mais uma “amostra promissora” que uma temporada completa. Ainda assim, sua fragmentação serve a um propósito maior: expor o custo humano do projeto nacional wakandano ao longo de séculos, questionando o sacrifício institucional exigido dos agentes. Tal como em Pantera Negra, perdoam-se falhas (CGI irregular no filme; roteiros inconsistentes aqui) quando a intenção artística é autêntica, embora a série sucumba desnecessariamente à obrigação de conectar-se ao MCU amplo no final.
Veredito:
Eyes of Wakanda consolida-se como a série mais visualmente ambiciosa da Marvel Animation, superando até “What If…?” em inovação estética. Seu design luminoso e direção de arte imersiva são conquistas permanentes, mas a narrativa desigual e a brevidade frustrante limitam seu potencial. Como o filme que a inspirou, triunfa ao transformar super-heróis em veículo para reflexões culturais – prova de que o legado de Coogler ainda pulsa no coração de Wakanda.
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