Algumas histórias possuem o dom de ressoar profundamente, e “Caramelo”, da Netflix, é uma delas. Este filme nacional transforma a premissa clássica dos filmes sobre cães em uma narrativa autenticamente brasileira, conquistando o espectador com uma mistura de calor humano, drama sensível e representação orgânica da cultura local. A trama apresenta Pedro, um aspirante a chef de cozinha interpretado por Rafael Vitti, cuja vida cruza com a de um vira-lata caramelo abandonado. Desse encontro fortuito surge uma amizade capaz de alterar seus caminhos de forma irreversível.
O grande triunfo da produção está em sua capacidade de evitar clichês fáceis. Em vez de recorrer a estereótipos sobre a juventude brasileira, o diretor Diego Freitas constrói um retrato crível do cotidiano. Os cenários de São Paulo, a rotina do trabalho em um restaurante e as dinâmicas familiares são ambientados com uma naturalidade que facilita a imersão. A fotografia com cores quentes e iluminação aconchegante contribui para essa estética que valoriza o familiar. A abordagem da gastronomia como elemento afetivo e de identidade é particularmente notável, servindo como uma ligação poderosa com as raízes culturais.
O núcleo emocional do filme repousa na química convincente entre Rafael Vitti e Amendoim, o cão que interpreta Caramelo. Vitti entrega uma atuação nuances, capturando a vulnerabilidade de um homem que vê seu sonho profissional ameaçado por um diagnóstico de saúde devastador. A forma como o filme lida com este drama é equilibrada, sem recorrer ao melodrama excessivo. As interações do protagonista com sua mãe, vivida por Kelzy Ecard, são tocantes e adicionam camadas de verdade à narrativa, com uma relação que parece genuína desde o primeiro momento.
“Caramelo” não reinventa o gênero, mas sua força reside na sinceridade. A história se constrói nos pequenos gestos, nas pausas e nos absurdos do dia a dia que qualquer brasileiro reconhece. O cachorro não é um mero instrumento sentimental, mas uma presença catalisadora que devolve a humanidade ao protagonista. A trilha sonora, incluindo a música “Doce Feito Caramelo” de Iza, complementa perfeitamente o tom de ternura e resiliência. A escolha de um vira-lata caramelo como protagonista é um acerto simbólico, celebrando a resistência e a afetividade que caracterizam o povo brasileiro.
A obra consolida Diego Freitas como um dos diretores mais promissores do cinema nacional na Netflix, seguindo a linha de sensibilidade vista em “Depois do Universo”. “Caramelo” é, no fim, um lembrete poderoso de que os encontros mais simples podem carregar o poder de redefinir uma vida. É um abraço cinematográfico que honra suas origens, emocionando com honestidade e deixando uma marca duradoura de esperança e calor no espectador.
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