Mais de vinte anos se passaram, e a mente brilhante por trás da icônica bolinha rosa, Masahiro Sakurai, nos presenteia com “Kirby Air Riders” no Nintendo Switch 2. Este novo título, embora mantenha a essência do clássico do GameCube, eleva a experiência com um visual e estilo aprimorados, mas levanta a questão se essa evolução superficial é suficiente para sustentar a diversão a longo prazo.
A adorável bolinha rosa, conhecida por sua capacidade de sugar e copiar habilidades, é sem dúvida uma das maiores preciosidades da Nintendo, conquistando fãs de todas as gerações. Agora, Kirby retorna às pistas de corrida em “Kirby Air Riders”, revivendo a nostalgia de seu antecessor lançado há mais de duas décadas no GameCube e prometendo uma dose de velocidade e fofura.
“Kirby Air Riders” oferece uma variedade de modos de jogo, alguns familiares aos fãs e outros introduzindo novas dinâmicas. O “Rali Rasante”, “Prova Urbana” e “Vista Aérea” fazem um retorno triunfal, mantendo a essência de suas versões originais, enquanto “Pé na Estrada” surge como a grande novidade. Este último, embora ambicioso em sua proposta de combinar elementos dos outros modos, não conseguiu atingir todo o seu potencial, resultando em uma execução que deixa a desejar.
O “Rali Rasante” entrega a experiência clássica de corridas rápidas em pistas visualmente deslumbrantes, com a opção de desafiar o relógio em provas de tempo. Já o modo “Vista Aérea” reimagina a competição com uma perspectiva de cima, remetendo aos antigos jogos de autorama, onde o foco está em pequenos circuitos simples.
Entre os modos mais dinâmicos, destaca-se a “Prova Urbana”, que joga os competidores em um mapa aberto com ares de arena de batalha. Aqui, os jogadores têm um tempo limitado para encontrar e aprimorar seus veículos, coletando melhorias enquanto se defendem dos ataques adversários. Essa corrida armamentista culmina em uma série de minigames e corridas convencionais, que se mostram bastante engajadores.
O modo “Pé na Estrada” serve como a campanha principal de “Kirby Air Riders”, tentando amarrar os demais modos com uma narrativa simples e algumas cutscenes. No entanto, sua estrutura se revela um dos pontos fracos do jogo. Ao longo de onze fases em biomas variados, o jogador se vê imerso em uma repetição exaustiva dos segmentos dos outros modos. Cada fase é fragmentada em treze pequenos eventos, que duram entre trinta segundos e um minuto, criando uma sensação de “Dia da Marmota” que torna a progressão monótona e cansativa muito antes de se atingir a metade das aproximadamente duas horas de duração. A ausência de um ritmo desafiador e uma inovação genuína transformam o que deveria ser uma aventura em uma experiência tediosa.
A maioria das fases de “Pé na Estrada” apresenta um nível de dificuldade baixo, o que contribui para a falta de engajamento. A ausência de uma estrutura mais dinâmica, talvez inspirada em elementos roguelike com sessões mais curtas e variadas, é uma oportunidade perdida que poderia ter tornado este modo muito mais cativante. Apesar de alguns combates contra chefes oferecerem um alívio momentâneo, a campanha como um todo se perde na repetição, minando os aspectos positivos do game. A narrativa, embora simples, sofre com a forma como é apresentada; assistir a uma breve cutscene após a enésima repetição de um desafio não consegue reanimar o entusiasmo de um jogador já exausto pela mesmice.

Felizmente, o modo online injeta uma dose extra de variedade e longevidade, com opções de fila ranqueada e a possibilidade de criar lobbies personalizados, fomentando a interação e a competição em equipe de forma divertida. O clássico multiplayer local com tela dividida também marca presença, mas a alta velocidade do gameplay pode gerar certa poluição visual, dificultando a experiência em algumas situações.
A progressão em “Kirby Air Riders” é gratificante através de um sistema de recompensas inspirado, onde cada conquista preenche um mosaico e desbloqueia novos elementos. A quantidade de personagens, pranchas e outros itens colecionáveis é vasta, e a emoção de desbloquear um novo piloto remete diretamente à satisfação de adquirir um novo lutador em “Super Smash Bros. Ultimate”, outro aclamado título de Masahiro Sakurai.
A velocidade é a alma de “Kirby Air Riders”, permeando desde os curtos segmentos do modo história até a contagem regressiva para a largada. Há uma clara intenção de capturar a atenção do jogador no dinamismo de cada momento, em vez de focar em sessões de gameplay prolongadas. No entanto, essa abordagem pode se tornar exaustiva. A falta de uma cadência variada nos desafios e de um conteúdo mais robusto para equilibrar a natureza frenética do jogo faz com que a experiência se transforme em algo punitivo após um tempo excessivo de jogo.
Apesar de suas imperfeições, “Kirby Air Riders” brilha intensamente em sua apresentação. O visual do jogo é impecável, com pistas vibrantes e cheias de detalhes que rodam com fluidez impressionante no Nintendo Switch 2. A trilha sonora complementa perfeitamente a ação frenética, e a excelente localização para o Português do Brasil, incluindo um narrador imersivo, adiciona uma camada extra de polimento, solidificando a atmosfera de um mundo de velocidade encantador.
Em suma, “Kirby Air Riders” acerta ao recapturar a essência divertida de seu predecessor, mas tropeça onde ousa inovar. O modo história, “Pé na Estrada”, e a falta de evolução mais significativa em outros sistemas transformam o potencial do jogo em um desafio de persistência para o jogador. Embora os modos de jogo sejam cativantes no início, a repetição inibe sua longevidade, diminuindo o brilho que um título da adorável bolinha rosa da Nintendo poderia ter. “Kirby Air Riders” é um bom jogo, mas que deixa um gostinho de “poderia ser mais”.










