A nova versão de Natal Sangrento busca criar uma figura de anti-herói slasher para o século XXI. Mais do que refazer a trama do cult de 1984, o filme herdou seu espírito vingativo, adaptando-o a uma era de cinismo e desconfiança generalizada.
A premissa original apresentava Billy Chapman, um homem traumatizado que, após testemunhar o assassinato dos pais por um Papai Noel, surta e usa a fantasia para cometer crimes em uma única noite. Diferente dos monstros sobrenaturais de outras franquias, ele era uma figura tragicamente humana, cuja violência era limitada e finita, simbolizando o trauma de uma geração.
A versão de 2025, dirigida por Mike P. Nelson, reconstrói essa mitologia. Aqui, Billy (Rohan Campbell) já é um assassino experiente, movido por uma voz interior que o comanda a eliminar uma pessoa por dia durante todo o dezembro. A reviravolta crucial é que suas vítimas são exclusivamente “pessoas ruins”, reveladas a ele através de visões de seus segredos sombrios. Essa abordagem transforma o personagem em uma espécie de justiceiro violento, uma representação mais generosa e catártica que dialoga com os tempos atuais, onde a raiva social muitas vezes busca válvulas de escape.
Nesse aspecto narrativo, o filme encontra sua força. O roteiro consegue construir personagens coadjuvantes críveis, como a protagonista vivida com destaque por Ruby Modine, que personificam os temas de trauma e resistência. A tese de que a violência pode ser uma resposta compreensível, ainda que extrema, a um mundo corrupto, é transmitida com clareza.
Contudo, Natal Sangrento tropeça justamente onde a maioria dos filmes de terror precisa brilhar: na direção e no susto. Mike P. Nelson falha em gerar tensão verdadeira ou em criar sequências de morte memoráveis e inventivas. As cenas de violência são encenadas e editadas de forma burocrática, carecendo tanto do suspense clássico do gênero quanto do exagero iconográfico do terror pop moderno. O resultado é um filme com uma premissa contemporânea relevante, que funciona como alegoria da raiva social, mas que se revela esteticamente plano e rapidamente esquecível como experiência de horror puro. A conclusão é que esta tentativa de revitalizar a franquia acerta no conceito, mas falha na execução cinematográfica, deixando a catarse prometida apenas no plano das ideias.







