Em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, somos lançados juntos com o Stephen (Benedict Cumberbatch), Wanda/Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e a recém-chegada America Chavez (Xochitl Gomez), por uma série caleidoscópica de universos alternativos. O que eles veem e experimentam ao longo do caminho se baseia em personagens e situações estabelecidas em filmes e séries anteriores da Marvel e aquele universo ricamente conectado se faz presente durante todo o longa.
Mas algo mudou, ao que parece.
Não muito tempo atrás, o MCU era uma progressão direta, embora ruidosamente ocupada, de eventos narrativos ao longo de uma única linha do tempo que os executivos da Marvel Studios dividiram em uma série de “fases”. Hoje, o estúdio produz filmes e séries de streaming em conjunto.
Como resultado, o MCU é agora uma rede de conteúdo cada vez mais difusa – um universo, como o nosso, em que tudo está se expandindo, seus personagens e enredos variados girando loucamente, afastando-se um do outro em todas as direções.
Então, sempre que, em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, um personagem ou evento é devidamente arrancado de algum canto mal iluminado e mal lembrado do MCU – um herói, o aparecimento desse personagem não consegue reunir o poder necessário, o impulso narrativo puro, para fazer o público dizer “WOOOO!” como aconteceu em Homem-Aranha Sem Volta pra Casa. O que ele pode fazer e faz, em vez disso, é fazer o público dizer “Hunh”.
E a culpa disso foi da própria Marvel ao entregar tanto durante os trailers.
Esse é um filme aguardado por anos, legiões de Fãs da Wanda, principalmente após WandaVision oravam aos deuses da Marvel e ao Kevin Feige pra que esse colosso fosse logo parar nas telas, nesse meio tempo, tantos vídeos foram sendo lançados com pedaços que poderiam E DEVERIAM ter ficado apenas no cinema, e não nos trailers. O impacto surpresa foi arrancado dos fãs dessa forma, infelizmente um ponto negativo, mas que não fere o brilhantismo desse novo filme.
Para o registro: “WOOOO!” é uma reação emocional, puramente reflexiva. Se você está fazendo um grande filme de super-herói, você quer “WOOOO!” e muito.
Agora falemos sobre Sam Raimi.
Esta não é a primeira vez do diretor no terreno da Marvel, é claro – na infância do que agora chamamos de cinema de super-heróis, ele dirigiu a trilogia original de Tobey Maguire Spider-Man. Mas naquela época, a Marvel ainda era apenas um estúdio, e ainda não um gênero.
Em entrevistas, Raimi foi agradavelmente honesto sobre os desafios de fazer este filme. Ele entrou a bordo depois que seu diretor original (Scott Derrickson, que dirigiu o Doutor Estranho de 2016), saiu, citando diferenças criativas com a visão da Marvel Studios para o filme. Originalmente, o filme deveria estrear antes de Spider-Man: No Way Home, o que significava que o roteiro estava constantemente em fluxo, e ele tinha que continuar verificando com os executivos do estúdio encarregados de dirigir o tráfego narrativo do MCU. Tudo isso, além de uma série de atrasos e refilmagens de COVID.
Os fãs da Marvel vão adorar todas as aparições e os fãs de Raimi vão gostar cada vez mais do filme conforme forem encontrando pequenos detalhes que o diretor fez questão de imprimir durante as duas horas de filme, Evil Dead, Arraste-me para o inferno e outros estão ali, referenciados e tornando o longa um filme totalmente diferente de tudo que já foi feito no MCU.
Sobre o visual
Efeitos especiais que habilmente evocam cores do espaço, geometrias alienígenas, arquitetura impossível – toda a trama visual misteriosa e sobrenatural que você espera de um filme do Doutor Estranho. Os vários universos que visitamos em nossa turnê interdimensional pulsam com cores vivas e padrões psicodélicos rodopiantes. Uma cidadela proibitiva à beira do penhasco parece irradiar uma intensa aura maléfica. Os personagens desafiam a gravidade enquanto saltam entre pedaços de ruínas que flutuam misteriosamente no espaço. Tudo isso é retratado com um espetáculo e grandeza agradavelmente desorientadores.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é ótimo em retratar as maravilhas impossíveis de outros universos, e literalmente expande de forma absurda as possibilidades para o que a Marvel pode fazer nos próximos anos.
E claro, estaremos aguardando ansiosos por mais desse universo, ou melhor, desse multiverso de possibilidades.
PS – A cena pós créditos me fez gritar na sala.
Crítica escrita por Marko Miller