Danny Boyle e Alex Garland ressuscitam a franquia que redefiniu os zumbis com “Extermínio: A Evolução” (28 Years Later), muito além de uma simples sequência. O filme expande o universo pós-apocalíptico criado em 2002, usando o vírus raivoso como metáfora para os ciclos intermináveis da violência humana. Não por acaso, o poema Boots de Rudyard Kipling — que inspirou o premiado trailer — ecoa na narrativa: sua visão da guerra como uma marcha eterna rumo ao inferno reflete o cerne da trama. Passados 28 anos do surto original (ignorando em grande parte Extermínio 2), o Reino Unido transformou-se num ecossistema hostil onde os infectados evoluíram para formas aterrorizantes: de criaturas lentas e deformadas a predadores gigantes com inteligência aguçada.
Em Holy Island, enclave isolado pelas marés, acompanhamos o rito de passagem de Spike (Alfie Williams), um adolescente precoce levado pelo pai, Jamie (Aaron Taylor-Johnson), à sua primeira caçada aos infectados. A jornada revela segredos familiares e a existência do enigmático Dr. Kelson (Ralph Fiennes), acusado de loucura. Quando sua mãe, Isla (Jodie Comer), adoece, Spike desafia o pai e parte com ela em busca do médico, mergulhando num mundo muito mais complexo que suas expectativas.
A direção de Boyle é um furacão sensorial. Filmado inteiramente com iPhones por Anthony Dod Mantle, o longa ecoa a estética digital pioneira do primeiro filme enquanto cria uma textura visceral que aproxima o caos distópico da linguagem das redes sociais. A montagem de Jon Harris injeta adrenalina com cortes bruscos e congelamentos dramáticos, e a trilha dos Young Fathers — evocando Radiohead e The Smiths — amplia a atmosfera opressiva. A escolha narrativa de um protagonista adolescente não é casual: a história de Alex Garland transforma a infecção zumbi em alegoria sobre a perda da inocência e o recrutamento precoce de jovens para guerras que não compreendem.
Sem cair em alegorias óbvias (embora ecoe Covid e Brexit), o filme critica o “ruído” da vida moderna e a exposição universal ao perigo. O ápice emocional surge no encontro entre Spike e o Dr. Kelson: Ralph Fiennes entrega atuação magistral, humanizando um personagem aparentemente caricato e revelando que, mesmo no inferno zumbi, atos de compaixão podem redefinir verdades. A cena sintetiza o tema central — num mundo de agressão desenfreada, a bondade persiste como resistência.
Veredito final: Extermínio: A Evolução supera sua herança como marco do gênero zumbi. Combinando ação frenética, inovação técnica (a fotografia mobile é revolucionária) e profundidade temática, Boyle e Garland provam que o horror especulativo pode explorar verdades humanas universais. A trilogia promete mais com Extermínio: Templo dos Ossos (2026), mas este capítulo já se afirma como experiência cinematográfica essencial — brutal, reflexiva e emocionalmente ressonante.