Joseph Kosinski, o arquiteto visual por trás do fenômeno Top Gun: Maverick, acelera ao extremo com F1, entregando muito mais que um simples filme de corrida. Trata-se de uma amálgama técnica e narrativa que funde três vertentes: a jornada clássica do herói (Brad Pitt como Sonny Hayes, o “melhor que nunca foi”), um reality show ficcional dentro dos cockpits, e um blockbuster americano que eleva o legado de Maverick com intensidade palpável. O resultado é uma experiência sensorial que redefine o cinema de ação.
Kosinski e sua equipe realizaram uma façanha cinematográfica: com 12 câmeras por carro, iPhones integrados e filmagens durante GPs reais, criaram uma verossimilhança inédita. O som sublime (trilha de Hans Zimmer à frente) e a fusão impecável de CGI e elementos práticos tornam impossível distinguir realidade de efeito – e isso pouco importa diante da imersão conquistada. Cenas como os testes em Daytona e as primeiras corridas são tão viciantes que a pergunta pós-tela é inevitável: “Quando é a próxima?“. Esta não é apenas uma narrativa sobre velocidade; é uma simulação visceral que rivaliza com a imersão dos melhores jogos, transformando o cinema em um cockpit coletivo.
Como Sonny Hayes, Brad Pitt personifica o poder de estrela em estado bruto. Sua entrada épica na 24 Horas de Daytona ao som de “Whole Lotta Love” (Led Zeppelin) define o tom: um rebelde com aura de lenda, desprezando regras e troféus (“dá azar“). Aos 60 anos, Pitt domina a tela com um charme roqueiro que evoca ícones como Steve McQueen – até em gestos mínimos, como rebater uma bola contra a parede. O filme sabe que seu maior trunfo é o astro: cenas icônicas, como o mergulho sem camisa na banheira de gelo, desafiam o ageísmo com charisma. Seu conflito com o novato Joshua Pearce (Damson Idris, promissor) e a tensão com a diretora técnica Kate (Kerry Condon, que evita clichês com maestria) sustentam o drama, ainda que o roteiro priorize o magnetismo de Pitt sobre desenvolvimentos profundos.
Assim como em Maverick, a dupla produtiva de Kosinski com Jerry Bruckheimer resgata o DNA dos blockbusters dos anos 80/90 com inteligência. Os arquétipos são reconfortantes: o veterano em redenção, o pupilo arrogante, a equipe underdog (liderada por Javier Bardem, carismático e solene). A narrativa não esconde sua previsibilidade, mas a execução é tão eletrizante que os clichês são eclipsados pela adrenalina. Essa nostalgia é contextualizada na explosão global da F1 – impulsionada por Drive to Survive e GPs nos EUA –, transformando o filme em uma “operação afinada” que entende seu momento cultural.
Apesar do triunfo técnico, o desenvolvimento emocional pega leve nas curvas. Diálogos como “meu trabalho é o vento” soam rasos frente à complexidade do esporte, e figuras como o executivo traiçoeiro (Tobias Menzies) são cartões marcados. O foco em Pitt, ainda que justificado, reduz o espaço de coadjuvantes – incluindo Lewis Hamilton em um cameo autoral.
Mas vale o ingresso? Absolutamente. F1 é um testemunho do poder do cinema quando técnica, estrelismo e nostalgia colidem. Oferece a sensação mais próxima de pilotar um carro de F1 sem sair da poltrona, reafirma Brad Pitt como uma força da natureza capaz ofuscar máquinas de 400 km/h, e prova que, em tempos de franquias e CGI excessivo, um blockbuster old-school com alma ainda arrebata. Como diria Sonny Hayes: um filme que entrega “punk rock para nossa marca“. Barulhento, veloz e irresistível. Assista em IMAX e sinta cada cavalo de potência.