“Fúria Primitiva” marca a estreia de Dev Patel como diretor, um projeto aguardado que finalmente chega às telas em 2024. Patel, conhecido por seu trabalho como ator em filmes como “Quem Quer Ser um Milionário?” e “A Lenda do Cavaleiro Verde”, agora assume múltiplos papéis como produtor, roteirista, diretor e protagonista. Neste filme de ação e vingança, ele busca transcender os clichês do gênero, entregando uma obra com profundidade emocional e crítica social.
Dev Patel demonstra uma habilidade notável para integrar diversas influências cinematográficas em “Fúria Primitiva”. A coloração saturada das cenas nas favelas indianas remete ao estilo visual de Danny Boyle, enquanto o olhar incisivo sobre a desigualdade social lembra a abordagem de Neill Blomkamp. Elementos de misticismo, inspirados por David Lowery, aparecem em momentos-chave da narrativa, como o uso de alucinógenos antes da batalha final. Essa colagem de estilos não apenas confere frescor à obra, mas também reflete a evolução contemporânea do cinema de ação, dialogando com a era pós-John Wick e pós-RRR.
A trama de “Fúria Primitiva” segue um protagonista sem nome (interpretado por Patel) em sua busca implacável por vingança. Após testemunhar a morte brutal de sua mãe, ele se infiltra em um clube exclusivo frequentado por oficiais corruptos do governo indiano, com o objetivo de derrubar o chefe de polícia Rana Singh (Sikandar Kher) e o guru corrupto Baba Shakti (Makarand Deshpande). A narrativa é enriquecida por críticas a injustiças sociais, corrupção política e fanatismo religioso, temas que Patel integra de maneira eficaz para adicionar profundidade ao filme.
Apesar das intenções louváveis, “Fúria Primitiva” apresenta falhas no desenvolvimento dos personagens. O protagonista, embora carismático e motivado, carece de um arco narrativo robusto que explique sua transição do trauma de infância ao papel de Monkey Man. Esse vácuo na narrativa prejudica a profundidade emocional do personagem. Os vilões, retratados de forma caricatural, e os coadjuvantes, subdesenvolvidos, também não conseguem se destacar, o que enfraquece o impacto geral do filme.
A direção de Patel é eficiente, especialmente nas cenas de ação, que são bem coreografadas e visualmente impactantes. No entanto, a sensação de novidade desejada pelo diretor nem sempre é alcançada. O filme, embora bem-intencionado, não escapa completamente dos clichês do gênero de vingança. Mesmo assim, o carisma de Patel e a relevância dos temas abordados mantêm o público engajado, tornando “Fúria Primitiva” uma adição significativa ao cenário atual do cinema de ação.
“Fúria Primitiva” é uma estreia promissora para Dev Patel como diretor. O filme se destaca pela tentativa de infundir o gênero de ação com questões sociais relevantes e uma profundidade emocional rara. Apesar das imperfeições no desenvolvimento dos personagens e na execução de alguns elementos narrativos, a obra oferece uma visão distinta e necessária no cinema de ação contemporâneo. “Fúria Primitiva” pode não revolucionar o gênero, mas certamente acrescenta uma nova e importante voz a ele, tornando-se uma experiência cinematográfica que vale a pena conferir.