Ambientada 183 anos antes dos eventos da trilogia original, ‘A Guerra dos Rohirrim’ nos leva a uma Terra-Média mais terrena, mas não menos épica. A animação, que mantém a estética visual marcante dos filmes de Peter Jackson, narra a história da Casa de Helm Hammerhand, o lendário rei de Rohan.
A trama, que explora um período pouco detalhado nos escritos de Tolkien, apresenta uma nova protagonista: Héra, a filha de Helm. Sua jornada, marcada por desafios e perdas, nos mostra a força e a determinação de uma mulher em um mundo dominado por homens. Ao focar em um personagem original, a animação enriquece o universo de Tolkien e oferece aos fãs uma nova perspectiva sobre a formação de Rohan.
A equipe de roteiristas escolheu como protagonista a filha de Helm, batizada de Héra. Para construir sua história, assim como Tolkien fez em sua época, a inspiração veio de uma figura real da mitologia ou história britânica: Ethelfleda de Wessex, uma guerreira que enfrentou os vikings. Isso faz todo o sentido, dado o caráter nórdico dos rohirrim.
Com essa escolha, no entanto, pode haver uma decepção para muitos. A Guerra dos Rohirrim é, em sua essência, uma disputa entre duas facções de estilo viking, sem magos, orcs ou dragões. Embora haja pequenos elementos que nos conectam com a Terra-média, se o que o espectador busca é uma imersão profunda no legendarium de Tolkien, pode sentir que o filme fica a deseja. Seu maior mérito é contextualizar a casa de Eorl para um público que só conhece suas histórias dos momentos épicos de As Duas Torres, especialmente o mítico Abismo de Helm.
Apesar de ser um filme envolvente, repleto de romance e epicidade, é impossível não perceber que ele recicla momentos que já vimos nos filmes. Há uma repetição dos mesmos recursos narrativos, como o “deus ex machina”, o sobrinho desterrado, as traições no conselho real, o refúgio em Cuernavilla, e até ataques com olifantes. São cenas que, embora míticas, acabam soando repetitivas, pois a jornada aqui é diferente e emocionalmente o impacto não é o mesmo. Isso faz com que o filme pareça, em certos momentos, um fan service desnecessário. Por outro lado, a trilha sonora de Howard Shore permanece como uma constante arrebatadora e essencial.
Esta é a sexta animação inspirada na Terra-média e a primeira no formato anime. A direção ficou a cargo de Kenji Kamiyama, responsável por Blade Runner: O Lótus Negro e Ghost in the Shell: Stand Alone Complex. Sob sua direção, somos levados de volta a Cuernavilla (o Abismo de Helm), visitamos Edoras em seu apogeu e vemos uma versão inédita de Isengard. O filme reserva momentos de encantamento mágico com a natureza, quase no estilo Ghibli, e algumas cenas em formato digital que são visualmente impressionantes. O estilo anime, longe de prejudicar a obra, contribui para manter o tom fantástico da narrativa, entregando mais uma opção de mídia para o gigantesco universo criado por Tolkien.