Dirigido por Josh Boone, o mesmo de A Culpa É Das Estrelas, Se Não Fosse Você carrega a expectativa de ser mais uma adaptação bem-sucedida e comovente de um best-seller de Colleen Hoover. A premissa promete um drama denso: a reconstrução de uma família abalada por uma tragédia dupla – a morte do marido/pai e da irmã/tia em um acidente de carro –, agravada pela descoberta de que os dois mantinham um caso secreto. Este é o pano de fundo para a complicada relação entre Morgan (Allison Williams) e sua filha Clara (Mckenna Grace), que precisam navegar um luto repleto de segredos, traição e ressentimentos.
No entanto, a narrativa sofre com o excesso de melodrama. Se Não Fosse Você abraça lágrimas, reviravoltas e confrontos emocionais de forma quase contínua, e nem sempre consegue equilibrar intensidade com naturalidade. A complexidade do cenário, com a presença do cunhado Jonah (Dave Franco) – viúvo da irmã traidora – e um bebê recém-nascido que complica ainda mais os laços familiares, é bem apresentada, mas o filme nunca se aprofunda o suficiente nesses dilemas para realmente comover. O roteiro de Susan McMartin, fiel ao livro, ignora cortes necessários, resultando em diálogos didáticos como “O luto não é linear” e cenas que soam artificiais, como se o objetivo fosse mais comover do que desenvolver uma veracidade emocional.

Onde o filme verdadeiramente brilha é quando troca o drama pesado pela comédia romântica. O desenvolvimento do romance entre Clara e Miller (Mason Thames) é fofo por si só, mas ganha força vital com a química eletrizante das estrelas jovens. Este subtrama ganha um toque especial pela melhor amiga da garota, Lexie (Sam Morelos), responsável pelos melhores momentos de humor do longa, com comentários sarcásticos e uma língua afiada que oferece um refúgio bem-vindo da intensidade opressiva do drama principal.
Infelizmente, o mesmo sucesso não se repete no núcleo adulto do romance. A atração entre Morgan e Jonah, que deveria ser o motor emocional da trama, carece de faíscas. Allison Williams e Dave Franco, atores talentosos, sofrem para gerar a química que o roteiro insiste que existe. A decisão infeliz de usar os mesmos atores para cenas de flashback de 20 anos atrás, com caracterizações vergonhosas, é um desserviço à história.

Ainda assim, as atuações sustentam o filme. Allison Williams, como Morgan, transmite peso e culpa com credibilidade, transitando de um humor seco para uma vulnerabilidade crua. Mckenna Grace, por sua vez, rouba cenas como Clara, expressando confusão e ressentimento de forma convincente e madura. É na relação entre mãe e filha que o filme encontra seu núcleo mais forte e autêntico. Os conflitos e discussões são fáceis de se identificar, e a dinâmica criada por Williams e Grace na tela é palpável e comovente.
Josh Boone dirige com sensibilidade visual. A fotografia de Jo Willems capta o outono texano em tons quentes, contrastando com a frieza do luto, e a trilha de Danny Elfman reforça o tom romântico sem cair no excesso. No entanto, Boone luta com o ritmo. Com 117 minutos, o filme se arrasta em atos intermediários, com montagens de rotina diária que diluem a tensão. Comparado a It Ends with Us, outra adaptação de Hoover, Se Não Fosse Você é menos impactante, soando formulaico e ecoando The Notebook em sua teia de relacionamentos entrelaçados, mas sem a mesma ousadia ou profundidade.
Veredito Final (Nota 6/10):
Se Não Fosse Você é uma escolha sólida para noites românticas ou fãs devotos de Colleen Hoover. O filme captura o encanto agridoce da autora: corações partidos que se refazem em abraços inesperados. As atuações cativantes, especialmente de Grace e Williams, e os momentos genuínos de humor e romance juvenil garantem entretenimento e algumas lágrimas.
No entanto, o pacing lento, a previsibilidade e o excesso de melodrama impedem que a adaptação atinja todo o seu potencial. É um filme que prefere errar pelo exagero do que pela indiferença, oferecendo conforto emocional para quem busca um “popcorn movie” reconfortante, mas decepcionando os espectadores que anseiam por uma inovação no gênero ou uma profundidade emocional mais sutil e orgânica. No fim, é uma visita ao cinema que aquece a alma, mas não revoluciona o gênero.










