Quinze anos após a estética cyberpunk de “Tron: O Legado” conquistar fãs, a Disney reinicia a franquia com “Tron: Ares”, um filme que abraça um paradoxo interessante: usa tecnologia de ponta para alimentar uma narrativa profundamente nostálgica. Sob a direção de Joachim Rønning, a produção de mais de US$ 200 milhões é um banquete para os sentidos, mas a fome por uma história com substância permanece.
Desta vez, a premissa se inverte. A jornada não é sobre humanos entrando no Grid, o mundo digital, mas sobre trazer um programa dele para a nossa realidade. Jared Leto é Ares, uma inteligência artificial projetada para ser o soldado definitivo, criada pelo magnata Julian Dillinger (Evan Peters). Seu plano é militarizar essa tecnologia, encontrando fierce oposição em Eve Kim (Greta Lee), uma CEO idealista que acredita no uso da IA para o bem comum.
O filme acerta em cheio ao entregar o que se espera de Tron: sequências de ação espetaculares. As corridas de Light Skimmers invadem as ruas de uma cidade real, e a aparição de um Recognizer sobre arranha-céus é um momento de puro deleite visual. A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, creditada ao Nine Inch Nails, é uma batida eletrônica agressiva e imersiva que domina a sala, perfeita para o formato IMAX.
No entanto, o longa tropeça ao tentar atualizar o debate filosófico da franquia. A discussão sobre os perigos e a benevolência da inteligência artificial é tratada com superficialidade, perdida entre arquétipos previsíveis e alusões a “Frankenstein” e “Pinocchio” que não se aprofundam. A busca por um “código de permanência”, um macguffin que permite que objetos do Grid existam no mundo real, parece mais uma jogada de roteiro para justicar a ação do que um conceito orgânico.
Jared Leto entrega um Ares visualmente impactante, mas a direção o mantém em um registro excessivamente robótico e monótono, dificultando uma conexão emocional. O mesmo ocorre com Jodie Turner-Smith como Athena. Os momentos de maior humanidade vêm, ironicamente, da dinâmica entre Evan Peters e Gillian Anderson, que interpreta sua mãe e sócia, adicionando um drama corporativo e familiar que destoa do restante, mas dá alma à trama.
“Tron: Ares” é, no fundo, um produto de sua própria tese. Assim como Julian Dillinger tenta replicar o passado trazer o Grid para o presente, o filme parece obcecado em servir à mitologia clássica, com cameos e referências que agradarão aos fãs de longa data, mas pouco faz para inovar. É uma experiência cinematográfica competente e visualmente deslumbrante, mas que, como o próprio Ares, carece da centelha de originalidade e profundidade necessária para se tornar verdadeiramente inesquecível. O espetáculo está lá, mas a alma do Grid ainda está esperando para ser encontrada.
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