Chegar ao Volume 2 da última temporada de Stranger Things é como visitar uma Hawkins que perdeu a inocência, mas ganhou em peso emocional. Mais do que um mero prólogo para o evento final, esses episódios revelam uma série que optou por um caminho maduro, priorizando o fechamento das jornadas pessoais de seus personagens antes da batalha apoteótica contra Vecna. A atmosfera é constantemente opressiva, sustentando uma tensão que lembra ao espectador que nenhum herói está verdadeiramente a salvo, em meio a momentos épicos e sequências de tirar o fôlego.
O grande acerto narrativo reside no olhar introspectivo. O arco de Will Byers, finalmente, assume o centro do palco de forma digna e delicada. Sua jornada de autodescoberta e aceitação é tratada não como um drama adolescente lateral, mas como uma poderosa ferramenta narrativa e emocional. Ao seu lado, o elenco continua brilhante, com Sadie Sink (Max) mantendo-se como o coração pulsante da trama e dinâmicas clássicas, como a dupla Steve e Dustin, fornecendo o alívio cômico e a conexão afetiva que são a alma da série. Cenas de confissão e resolução de conflitos, como entre Nancy e Jonathan, funcionam como âncoras emocionais poderosas, sustentadas por atuações excelentes.
No entanto, essa maturidade narrativa convive com os vícios de sempre. A incapacidade de ser concisa persegue a produção. Episódios extensos muitas vezes não justificam sua duração, esticando conflitos de forma exaustiva. As distrações desinteressantes retornam: o núcleo militar liderado pela Dra. Kay agrega pouco, servindo mais como um obstáculo narrativo conveniente do que uma adição relevante. Apesar do retorno, Kali permanece um contraponto subutilizado. Visualmente, a série oscila entre efeitos práticos impressionantes e momentos de CG que quebram a imersão, reflexo de uma produção que às vezes prioriza a escala grandiosa em detrimento da autenticidade que a consagrou.
Este Volume 2, portanto, cumpre um papel claro de transição. Ele limpa a mesa, resolve pendências emocionais cruciais e descarta elementos dispensáveis para preparar o terreno para um Volume 3 que promete ser focado exclusivamente no confronto final. Stranger Things prova que, mesmo com seus problemas crônicos de ritmo e excesso, ainda sabe como criar momentos de verdadeira emoção e conexão humana. A série cresceu, seus personagens também, e essa despedida agridoce, embora não perfeita, é honesta ao demonstrar que o verdadeiro poder da narrativa nunca esteve apenas nos monstros e portais, mas na luta desses personagens para sobreviverem e se encontrarem em meio ao caos. A batalha final está armada, e Hawkins nunca pareceu tão vulnerável e tão cheia de alma.
“Stranger Things” – Volume 2 da 5ª Temporada está disponível na Netflix. O episódio final será lançado em 31 de dezembro de 2025. Direção dos Irmãos Duffer, Shawn Levy e outros. Elenco inclui Millie Bobby Brown, Finn Wolfhard, Noah Schnapp, Sadie Sink, Winona Ryder e David Harbour.








