Predador: Terras Selvagens é um filme que caminha sobre o fio da navalha entre a inovação e a tradição. Dan Trachtenberg, diretor que já havia revitalizado a franquia com “A Caçada”, assume o audacioso desafio de colocar a figura do Predador como protagonista pela primeira vez, resultando em uma experiência que divide opiniões de forma intensa. A premissa é, sem dúvida, interessante: acompanhamos Dek, um jovem yautja em sua jornada de iniciação para provar seu valor em um planeta alienígena hostil, onde forma uma parceria improvável com a androide Thia, vivida por Elle Fanning. Esta abordagem transforma o longa em um dos buddy cops mais divertidos dos últimos anos, com química notável entre os protagonistas e um espetáculo visual à la Star Wars, graças aos impressionantes efeitos da Weta Digital e ao design do monstro assinado por Alec Gillis, o mesmo do original de 1987.

No entanto, é justamente na tentativa de humanizar o monstro que o filme tropeça. A decisão de apresentar um Predador mais jovem, vulnerável e em uma “jornada do herói” invertida pode soar como uma descaracterização da essência aterrorizante construída ao longo de 30 anos. Dek é constantemente humilhado pela narrativa, o que, se por um lado permite explorar a cultura yautja e adicionar camadas ao personagem, por outro o transforma em uma figura fraca e sem a imponência habitual da criatura. A classificação indicativa mais leve (maiores de 13 anos), consequência da ausência de sangue vermelho – já que não há humanos na trama –, também afasta o filme do tom violento e cru que marcou a franquia. As cenas de luta, embora inseridas em um contexto de ação dinâmica, possuem coreografias por vezes forçadas que não conseguem prender totalmente a atenção.
A dupla protagonista carrega o filme com competência. A atuação de Elle Fanning como Thia (e também como Tessa, outra andróide) é um dos pontos altos, conferindo profundidade e charme à narrativa. A química entre ela e Dimitrius Schuster-Koloamatangi (Dek) é palpável e sustenta a dinâmica de parceria improvável. Contudo, os diálogos entre os dois, embora cumpram sua função de desenvolver o protagonista, soam artificialmente forçados em vários momentos, como uma muleta narrativa para despertar sensibilidade no yautja. O ritmo do longa segue uma fórmula previsível de filmes de ação, com paralelos entre a jornada de Dek e os antagonistas que o perseguem, equilibrando momentos cômicos que podem arrancar risadas, mas sem surpresas significativas.

Predador: Terras Selvagens é, portanto, um paradoxo. Se, por um lado, ele consegue injetar oxigênio novo na franquia, explorando elementos inéditos e abrindo caminho para um futuro promissor dos yautja nos cinemas, por outro, arrisca-se a comprometer a imagem da criatura ao transformá-la em um protagonista sem impacto e excessivamente humanizado. O filme é tecnicamente competente, visualmente deslumbrante e ousado em sua proposta, mas pode decepcionar os fãs mais puristas que esperavam a reinstauração do terror clássico. No fim, é uma aventura que entretém, mas que levanta a questão: será que o Predador realmente precisava ser humanizado? A resposta dependerá de quanto o espectador está disposto a aceitar a evolução – ou a ruptura – de um legado.










