A franquia que conquistou o público há mais de uma década com sua mistura única de mágica e cinema de ação retorna com Truque de Mestre – O 3º Ato, um filme que tenta resgatar a essência apaixonante do original enquanto busca novos rumos e rostos. No entanto, a ambição de equilibrar passado e futuro revela as costuras de um ilusionismo narrativo que, desta vez, pode ter dado um passo maior que a perna.
Dirigido por Ruben Fleischer, o longa-metragem coloca os icônicos Cavaleiros – interpretados por Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Dave Franco e Isla Fisher – frente a frente com uma nova geração de mágicos, representada pelo trio de arruaceiros formado por Justice Smith, Dominic Sessa e Ariana Greenblat. Esta passagem de bastão é o cerne do filme, um conceito que vai muito além do marketing em torno de manter a franquia viva, sendo usado para justificar várias escolhas do roteiro. Enquanto a geração mais velha aposta em truques clássicos de ilusionismo, os mais jovens usam tecnologias de ponta em uma dinâmica que perpassa por toda a história da mágica.
A trama envolve a luta contra Veronika Vanderberg (Rosamund Pike), uma magnata de diamantes que perpetua a lavagem de dinheiro para os piores crimes da humanidade. O plano dos mágicos é roubar o maior diamante já encontrado para expor seu esquema criminoso. No entanto, a premissa já exige demais da suspensão de descrença do público. Achar que um quarteto de mágicos sorrateiros pode derrubar um império corrupto é uma coisa, mas Truque de Mestre – O 3º Ato dobra a aposta e coloca os ilusionistas em uma guerra secular contra nazistas e criminosos da pior espécie, uma trama ambiciosa que o roteiro parece não querer lidar direito.
Um dos principais problemas reside na vilã. Comparado aos antagonistas dos filmes anteriores, Veronika não consegue ser uma figura que traga uma presença poderosa e perigosa o suficiente para encarar o grupo, sendo apenas prepotente e contando com guarda-costas poderosos. Apesar de uma atuação competente de Rosamund Pike e algumas informações sutis sobre seu passado, ela entrega apenas o básico.

O filme, querendo focar na alegria de reunir personagens queridos pelo público, acaba pecando na construção dos novos personagens e na forma de contar a história. Alguns pontos da trama são passados e explicados de forma rápida e até forçada, fazendo com que o espectador saia da imersão. Há uma sensação de que, dentro da crise de criatividade que o cinema atual vive, o caminho mais fácil foi o de reviver a nostalgia por personagens e situações, mas sem propriamente ter uma ideia sólida por trás. É uma tentativa de resgate vazio, paralela à introdução de uma nova equipe, tornando-o uma “história de transição” pensada puramente no sentido comercial.
Tecnicamente, o filme também sofre. Ao apostar alto na entrega do público à sua trama, o longa cria narrativas que somente os mais desapegados conseguem abraçar. A direção, por vezes, olha demais para o ilusionista e acaba revelando os segredos por trás da mágica – que na maioria das vezes é feita de CGI. As sequências de ação, no entanto, ainda são um destaque, trazendo a criatividade característica da franquia, com fugas que lembram Fórmula 1 e lutas bastante inventivas.
Apesar de tudo, Truque de Mestre – O 3º Ato não é uma ofensa ao espectador. É uma experiência cinematográfica típica de um filme familiar para se assistir no domingo à tarde. O elenco, tanto o original quanto os novatos, mostra-se uma escolha certeira, com muito carisma e uma dinâmica interessante entre eles. A interação entre os quatro cavaleiros originais ainda é eletrizante, mesmo que soe como uma nostalgia forçada.
No fim das contas, o filme cumpre seu papel de entreter quem se permite ser enganado, afinal, é assim que a mágica funciona. Ainda assim, deixa a desejar para uma trilogia que começou com “os dois pés na porta”. Para os fãs, vale a pena para conhecer os novos personagens – que, seguindo o ritmo do filme, serão os próximos protagonistas – e se surpreender com a sagacidade e o carisma dos antigos Cavaleiros. Mas o terceiro ato da franquia, ao tentar fazer um escapismo da realidade em seu próprio universo, falha em desenvolver questões que ele mesmo propôs, estabelecendo uma nova régua para um futuro que, espera-se, seja mais mágico.










