A escolha de Paul Feig para dirigir “A Empregada” parecia natural. Reconhecido por narrativas com protagonistas femininas e sucessos em comédias, o cineasta já havia aventurado no suspense com “Um Pequeno Favor”. Foi neste último, aparentemente, que ele buscou a referência para adaptar o fenômeno literário de Freida McFadden. No entanto, a tentativa de replicar a fórmula espetaculosa fez com que o filme se distanciasse da essência do livro, um thriller que conquistou leitores justamente pela construção sutil de seus mistérios.
A premissa central é mantida: Millie, interpretada por Sydney Sweeney, é contratada como empregada pela rica e enigmática Nina Winchester, vivida por Amanda Seyfried. Aos poucos, a realidade idílica da mansão se desfaz, revelando tensões e segredos perigosos, com o marido Andrew (Brandon Sklenar) como uma peça central neste jogo. A força da obra original reside no controle narrativo de McFadden, que dosa informações e reviravoltas com paciência, criando uma atmosfera de inquietação crescente.
A derrocada da adaptação começa quando Feig demonstra desconfiança desse material. Em vez de investir na tensão psicológica e nas dinâmicas não ditas entre as personagens, o diretor opta por uma linguagem mais explícita. A atração entre Millie e Andrew, que no livro é construída com nuances, é reduzida a cenas de nudez gratuitas, priorizando o espetáculo do corpo em detrimento do desenvolvimento emocional. Essa pressa em atingir certos clímax narrativos faz com que conflitos importantes do livro sejam negligenciados, esvaziando a profundidade da rivalidade entre Millie e Nina.
O terceiro ato consolida esse desvio de rota. O suspense psicológico e claustrofóbico que marca o clímax do livro é abandonado em favor de uma sequência de perseguição e ação convencional, que lembra produções televisivas de baixo impacto. Na tentativa de amplificar o espetáculo, Feig esvazia o poder das reviravoltas originais. Personagens coadjuvantes, como o jardineiro Enzo (Michele Morrone), tornam-se completamente irrelevantes na trama, exemplificando a falta de cuidado com a estrutura narrativa de McFadden.
Apesar dos equívocos, a base da história criada por Freida McFadden permanece sólida o suficiente para evitar um fracasso total. As performances do elenco principal e a premissa cativante sustentam o interesse. Contudo, a adaptação de “A Empregada” serve como um alerta: ao trocar a sutileza pela ostentação, o filme perde a voz única que fez do livro um fenômeno global. A esperança é que, se a franquia continuar nos cinemas, futuras investidas respeitem mais a inteligência e a economia de recursos que definem o thriller psicológico de qualidade.
“A Empregada”, baseado no best-seller homônimo e dirigido por Paul Feig, estreia nos cinemas em 1º de janeiro de 2026.







