A segunda temporada de The Sandman chega à Netflix com um misto de expectativa e frustração, encerrando a jornada do Mestre dos Sonhos em um tom que divide opiniões. A produção, baseada na aclamada obra de Neil Gaiman, mantém sua estética gótica e diálogos carregados de melancolia, mas falha em equilibrar profundidade narrativa com entretenimento.
Tom Sturridge continua imponente como Morpheus, personificando a angústia de um ser imortal condenado a lidar com as consequências de seus atos. Sua busca por redenção — incluindo um pedido de desculpas tardio à rainha Nada (Deborah Oyelade) após milênios de tormento no inferno — poderia ser catártica, mas acaba sufocada por um tom excessivamente solene. A direção de Jamie Childs mantém a atmosfera sombria, com sequências visualmente impressionantes, como o embate entre Morpheus e Lúcifer (Gwendoline Christie), mas peca pela iluminação opressiva e ritmo irregular.
A trama explora mitologias grega, nórdica e cristã, mas sem a ousadia necessária para reinventá-las. A história de Orpheus (Ruairi O’Connor), por exemplo, é reduzida a um artifício narrativo para justificar cenas de impacto, como uma cabeça falante. Enquanto isso, subtramas emocionantes — como a busca de Morpheus por um sucessor (o enigmático Daniel) — são resolvidas com pressa, deixando pontas soltas.
O elenco secundário brilha, com destaques para Kirby Howell-Baptiste (Morte) e Jenna Coleman (Johanna Constantine), mas até mesmo o sarcasmo do cão falante (dublado por Steve Coogan) não consegue aliviar o peso do roteiro. Os diálogos, repletos de frases pseudo-poéticas — “O inferno é o reflexo do céu” — soam mais pretensiosos do que profundos, reforçando a sensação de que a série prioriza a forma em detrimento do conteúdo.
Apesar dos defeitos, Sandman tem momentos de genialidade, especialmente quando mergulha na psique humana. A cena entre Morpheus e seus pais, Tempo (Rufus Sewell) e Noite (Tanya Moodie), é um dos pontos altos, mostrando o potencial não explorado da série. No fim, a conclusão é satisfatória para os fãs fiéis, mas deixa a sensação de que a adaptação poderia ter sido mais ambiciosa.
Com um episódio bônus previsto para 31 de julho, a Netflix encerra essa jornada de maneira digna, ainda que sem o brilho que a mitologia de Gaiman merecia.