A nova série da Netflix, “Os Donos do Jogo”, mergulha no violento universo da disputa pelo controle do jogo do bicho no Rio de Janeiro, levantando uma questão central entre o público: a trama é inspirada em histórias reais? A produção, que estreou em 29 de outubro, constrói uma narrativa ficcional repleta de verossimilhança, mas com raízes firmadas na realidade desse mundo clandestino.
O enredo central acompanha a crise de sucessão do bicheiro Jorge Guerra, interpretado por Roberto Pirillo. Com a saúde fragilizada, seu império se torna o palco de uma disputa acirrada entre suas duas filhas, Mirna e Suzana, vividas por Mel Maia e Giullia Buscacio. Enquanto uma opta por ceder o poder ao futuro marido, Búfalo, personagem do rapper Xamã, a outra desafia as estruturas machistas para comandar sozinha o negócio da família.
Essa dinâmica familiar ecoa fortemente a história verídica de Shanna e Tamara Garcia, herdeiras do conhecido contraventor Maninho Garcia. Após o assassinato do pai em 2004, as irmãs assumiram pontos do jogo do bicho e se envolveram em disputas pelo poder, marcadas por violência, paralelismos que a série explora de maneira evidente. Apesar das semelhanças, as atrizes Mel Maia e Giullia Buscacio esclarecem que suas personagens não são representações diretas das herdeiras reais. Buscacio ressalta que mulheres fortes neste meio são uma referência natural, mas não a única fonte. Maia complementa que a inspiração partiu principalmente do roteiro e da reflexão sobre o machismo estrutural na contravenção, focando na luta das mulheres por seu espaço e direito à herança em um ambiente dominado por homens.
O produtor Manoel Rangel é categórico ao afirmar que, embora a série seja profundamente pesquisada, toda a história é ficcional. A equipe de produção realizou uma extensa imersão, conversando com pessoas envolvidas, lendo e assistindo a todo o material disponível sobre o tema. Desse trabalho, nasceu “Os Donos do Jogo”, uma narrativa que captura a essência e a verossimilhança da vida no jogo do bicho, incluindo sua íntima ligação com o Carnaval carioca e a hierarquia masculina da chamada cúpula. A semente da ideia, conforme revelou o diretor Heitor Dhalia, surgiu de um debate contemporâneo e real: a discussão sobre a possível legalização dos cassinos e jogos de azar no Brasil. A premissa inicial foi imaginar o impacto que essa legalização teria sobre a estrutura já estabelecida do jogo do bicho, construindo a partir daí um drama familiar único e eletrizante.

 
					








