Quinze anos após o último filme da franquia, Karate Kid: Lendas chega aos cinemas prometendo unir gerações. Com a assinatura criativa do trio por trás do sucesso de Cobra Kai, o longa traz Jackie Chan (Sr. Han) e Ralph Macchio (Daniel LaRusso) juntos pela primeira vez, em uma trama que tenta equilibrar legado e renovação. O resultado, porém, é irregular: enquanto honra o passado com respeito, tropeça na pressa de inovar.
Li Fong (Ben Wang), um adolescente prodígio do kung fu, deixa Pequim por Nova York após uma mudança familiar. Logo, ele enfrenta bullying de um campeão de karatê local e, para se defender, entra em um torneio com a ajuda de dois mentores improváveis: o enigmático Sr. Han (Chan) e o já icônico Daniel LaRusso (Macchio). A premissa é fiel à essência da franquia — um underdog buscando superação —, mas o roteiro acelera demais. Em apenas 94 minutos, a trama não desenvolve conflitos ou personagens secundários, como Mia (Sadie Stanley) e seu pai (Joshua Jackson), cujo potencial dramático é desperdiçado.
As cenas de luta, tradicionalmente o coração da saga, são escassas e pouco impactantes. O torneio final, que deveria ser o ápice emocionante, resolve-se em minutos, com cortes bruscos que ignoram batalhas intermediárias. A edição ágil e a trilha sonora energética não disfarçam a sensação de que o filme foi montado às pressas, como se o público já soubesse de cor cada passo.
A maior expectativa era ver Chan e Macchio compartilhando a tela. Infelizmente, a promessa de um “multiverso Karate Kid” não se concretiza. Enquanto LaRusso demora uma hora para aparecer — em uma participação mais cameo que coadjuvante —, Sr. Han ignora completamente os eventos do remake de 2010 (com Jaden Smith), tratando-o como um universo paralelo. Ainda assim, quando os dois mestres finalmente interagem, há lampejos de química. A cena em que discutem estilos de luta (“Kung fu é defesa, karatê é ataque!”) é divertida, mas efêmera.
Ben Wang, por outro lado, é um protagonista convincente. Seu carisma natural e habilidades marciais compensam um roteiro que pouco faz para aprofundar seu personagem. Li Fong não é um mero clone de Daniel ou Dre Parker; sua jornada foca na busca por propósito, evitando clichês de vingança. É uma pena que a pressa narrativa não permita explorar essa nuance.
Cobra Kai provou que a franquia pode reinventar-se sem trair suas raízes. Lendas, no entanto, parece hesitar entre seguir esse exemplo e agradar fãs nostálgicos. Referências a momentos clássicos — como o treino “encera-lixa-pinta” — são bem-vindas, mas soam como obrigação, não como evolução. O filme até tenta inovar, como na dinâmica entre Li e o pai de Mia, que aborda temas como pressão parental e autoconfiança. Porém, essas subtramas são abandonadas rapidamente em favor do formato “treino, torneio, vitória”.
Vale a Pena? Depende do Que Você Busca
Para fãs hardcore, Karate Kid: Lendas oferece momentos de afeto, como a participação surpresa de um personagem querido (sem spoilers!) e a satisfação de ver LaRusso e Han no mesmo frame. Já para o público geral, o filme é entretenimento leve, porém esquecível. As cenas de ação, ainda que bem coreografadas, não empolgam como outrora, e o vilão é tão genérico que até John Kreese (de Cobra Kai) pareceria complexo em comparação.
A maior lição aqui é que a franquia precisa decidir seu futuro: continuar reproduzindo fórmulas ou arriscar-se como fez no streaming. Enquanto Cobra Kai equilibrou nostalgia e originalidade, Lendas peca pela falta de ambição. É um retorno que não desonra o legado, mas também não o eleva.
Nota: ★★½ (2,5/5)